Ao longo da minha jornada liderando projetos de segurança ofensiva para grandes organizações, me deparei com um erro técnico que se repete com frequência surpreendente: empresas que contratam scans automatizados de vulnerabilidades e acreditam, ou foram levadas a acreditar, que realizaram um pentest completo e profissional.
A confusão entre essas duas abordagens, que têm finalidades e profundidades totalmente diferentes, cria uma falsa sensação de segurança. E pior, expõe sistemas críticos a riscos reais e exploráveis.
Scan não é pentest. E a diferença não é só de método
Um pentest (teste de intrusão) é uma simulação controlada de ataque, realizada por especialistas que pensam como atacantes. O objetivo é ir além das vulnerabilidades óbvias, explorando lógicas de negócio, falhas encadeadas, brechas emergentes e cenários reais de invasão.
Já um scan de vulnerabilidades é um processo automatizado, essencial para triagem inicial e compliance, mas limitado a assinaturas conhecidas. Ele não testa exploração. Ele detecta potenciais falhas com base em padrões. Em resumo: não há inteligência ativa envolvida, nem validação contextual.
O risco de tratar um como o outro
No Grupo Ivy, já atendemos clientes que chegaram até nós com resultado de ‘não conformidade’ no controle de pentest da auditoria mesmo tendo um “pentest” recente em mãos. Em todos esses casos, o tal “pentest” era, na prática, apenas um scan com um relatório esteticamente elaborado, mas sem profundidade técnica ou validação real.
Essa prática, infelizmente comum no mercado, segue um padrão:
- Uma ferramenta como Nessus, Qualys ou OpenVAS é executada;
- Gera-se um relatório genérico baseado em CVEs públicas;
- Não há exploração manual, nem PoCs ou evidências práticas;
- O material é entregue como se fosse um pentest, apenas para “cumprir tabela” de compliance;
- Falhas complexas, como exploração de APIs, bypasses de autenticação ou vulnerabilidades de lógica, passam despercebidas.
Como diferenciar um pentest real de um scan disfarçado?
Com base na nossa experiência na Ivy, onde os projetos seguem rigorosamente frameworks reconhecidos como OWASP, PTES e MITRE ATT&CK, adaptados à realidade de cada ambiente, estas são algumas perguntas que todo gestor deveria fazer ao receber um relatório de segurança:
- O relatório traz evidências práticas de exploração?
- Houve interação humana qualificada, com análise contextual?
- Técnicas avançadas como bypass, pivoting ou exploração de lógica de negócio foram aplicadas?
- Existem PoCs (provas de conceito) que demonstrem o impacto real da vulnerabilidade?
- O conteúdo do relatório é estratégico e aplicável, ou apenas uma listagem extensa de falhas genéricas?
- O preço condiz com o esforço técnico? Pentests exigem tempo, método e especialização.
E quando usar cada abordagem?
Essa é uma pergunta recorrente que recebemos aqui na Ivy. E como eu já disse anteriormente, saber identificar as diferenças de cada uma é fundamental para manter sua empresa protegida e também dentro das conformidades que a regulamentação pede.
Veja para o que ser cada um deles:
Scan de Vulnerabilidades
- Útil para monitoramento contínuo, com ciclos mensais ou trimestrais.
- Apoia o atendimento a requisitos de conformidade, identificando brechas conhecidas.
- Deve ser usado antes do pentest, para eliminar falhas triviais e otimizar o foco dos analistas humanos.
Pentest Profissional
- Fundamental após alterações em sistemas, infraestrutura ou aplicações.
- Deve ser conduzido de forma periódica, para validar a resiliência dos controles e detectar falhas não triviais.
- Indispensável antes do lançamento de novos produtos ou serviços digitais.
- Recomendado quando o objetivo é avaliar ameaças reais e avançadas, com cenários que simulam atacantes com motivação, conhecimento e tempo.
Pentest e scan: complementaridade, não equivalência
Pentest e scan não competem. Eles se complementam. Um aponta vulnerabilidades conhecidas; o outro testa seu impacto real e descobre vetores invisíveis às máquinas.
Na Ivy, conduzimos pentests com um modelo proprietário que alia metodologia ofensiva, raciocínio adversarial e entrega estratégica. O foco não está apenas em encontrar falhas, mas em materializar riscos reais, com evidências técnicas e planos de mitigação aplicáveis.
A segurança da informação moderna exige mais do que “cumprir checklist”. Ela exige profundidade, inteligência ofensiva e alinhamento com os objetivos de negócio. Quando você entende isso, começa a ver o investimento em segurança como o que ele realmente é: proteção de valor e continuidade da operação.
Se sua empresa quer segurança de verdade, o caminho começa por entender a diferença entre detectar falhas e testá-las de verdade.