Recentemente, assisti a uma reportagem exibida em rede nacional que chamou me atenção: uma pessoa relatou ter recebido uma ligação supostamente de um banco e, ao atender, teve o celular automaticamente clonado e suas informações vazadas. O problema é que, do ponto de vista técnico, esse tipo de situação simplesmente não acontece da forma como foi descrita. Mas o dano já estava feito – não falo aqui de um ataque cibernético, mas de algo tão ou mais perigoso: a desinformação.
O risco hoje não está apenas nas falhas tecnológicas, mas na falta de conhecimento das pessoas sobre o que é ou não possível em termos de fraudes digitais.
Por que atender uma ligação não faz seu celular ser clonado ou seus dados vazarem?
Do ponto de vista técnico, o simples ato de atender uma ligação telefônica não tem a capacidade de clonar seu aparelho ou roubar informações. Isso acontece porque o protocolo de comunicação usado nas chamadas de voz (seja via rede móvel ou VoIP) não permite a transferência automática de dados ou a execução remota de comandos no dispositivo.
Vamos entender melhor:
1- Ligação de voz é apenas uma transmissão de áudio Quando você atende uma ligação, seu aparelho está apenas enviando e recebendo sinal de voz – ou seja, é uma comunicação em tempo real, limitada ao áudio. Não há canal ativo para a transferência de arquivos, execução de aplicativos ou injeção de malware nesse momento.
2- Sem interação ativa, não há ataque Para que algum tipo de código malicioso seja instalado ou executado em seu telefone, seria necessário que o usuário clicasse em um link, baixasse um arquivo, ou interagisse com algum aplicativo ou site comprometido. Apenas ouvir alguém do outro lado da linha não desencadeia nenhum processo técnico que comprometa o sistema operacional ou dê acesso remoto ao aparelho.
3- Clonagem de SIM Card exige ações mais complexas Mesmo quando falamos em clonagem de chip (SIM Swap), o processo envolve engenharia social para enganar operadoras de telefonia ou o uso de dados pessoais para transferir a linha para outro chip. Esse ataque não é feito por meio de uma simples ligação; ele depende de coleta prévia de dados e interação direta com a operadora.
4- Ataques via rede exigem vulnerabilidades específicas Existem, de fato, vulnerabilidades em sistemas operacionais ou aplicativos que permitem ataques remotos (exemplo: exploits via mensagens de texto ou chamadas VoIP comprometidas), mas esses casos são altamente sofisticados e geralmente explorados por grupos APTs (ameaças persistentes avançadas) em alvos muito específicos, como espionagem governamental ou empresarial. Não se aplicam ao contexto do dia a dia da maioria dos usuários e não são viáveis por meio de uma ligação convencional de telefone.
Você pode se perguntar: “Onde está o verdadeiro risco?”
O perigo real, nesses casos, está na engenharia social. Ou seja, o criminoso utiliza o contato telefônico para ganhar a confiança da vítima e convencê-la a fornecer informações sensíveis, como senhas, códigos de autenticação ou outros dados que ele possa usar em fraudes. Os golpes são amplamente divulgados como Phishing, Vishing, Business Email Compromise (BEC), etc.
Portanto, o maior risco não está no ato técnico de atender, mas sim na conversa que se desenrola após isso. A fraude acontece quando a vítima, enganada, fornece voluntariamente informações ou realiza ações que colocam sua segurança em risco.
Quando um episódio como esse ganha espaço em veículos de grande audiência, a narrativa – mesmo sendo tecnicamente imprecisa – se propaga rapidamente, gerando um efeito cascata. O público passa a acreditar que qualquer interação online é uma ameaça iminente, criando pânico e insegurança. E isso tem impacto direto no ecossistema de Segurança Digital.
Segurança é responsabilidade coletiva
A realidade é que a cibersegurança vai muito além de firewalls e ferramentas de proteção. Trata-se de criar e manter um ambiente onde todos – empresas, clientes, parceiros – possam confiar. Quando um incidente, mesmo que distorcido, ganha força na mídia, acabamos contribuindo involuntariamente para um cenário em que a confiança é minada. E confiança, como sabemos, é a base de qualquer relação, principalmente no setor financeiro.
É por isso que, ao investir em segurança, as organizações não protegem apenas os próprios dados ou sistemas. Elas preservam a integridade de todo o ecossistema. Uma rede segura fortalece a coletividade, cria um efeito de rede positivo, em que cada elo bem protegido reforça o conjunto.
Por outro lado, quando há brechas – sejam elas técnicas ou de informação – o prejuízo não é apenas financeiro. A reputação de empresas e instituições sofre e, mais grave ainda, aumenta-se a superfície de ataque para golpistas que se aproveitam justamente do medo e da falta de orientação correta da população.
O fator humano como protagonista
Segundo dados do Cybersecurity Outlook 2024, 95% dos ataques realizados no ano passado foram originados de falhas humanas. Isso nos mostra que, por mais que as tecnologias evoluam, o elo mais frágil – e ao mesmo tempo mais importante – ainda é o usuário.
É urgente que a educação em segurança digital seja tratada como prioridade, não apenas dentro das empresas, mas em nível de sociedade. E algumas companhias já estão se posicionando ativamente nessa missão: promovendo campanhas educativas, oferecendo treinamentos e levando conhecimento acessível ao público final.
Quanto mais as pessoas compreendem como as ameaças realmente funcionam, mais preparadas elas estarão para identificar golpes, evitar fraudes e manter sua segurança e a de todos ao seu redor.
A educação é a chave para um ecossistema mais seguro. A boa notícia é que o caminho está claro: precisamos desmistificar o universo da cibersegurança para o público geral. Falar sobre tecnologia sem tecnicismos, explicar riscos de forma didática e reforçar o senso de responsabilidade coletiva.
Segurança não pode ser encarada apenas como uma barreira ou um gasto necessário. Ela é um ativo estratégico, que protege negócios e fortalece a confiança em todo o ecossistema digital.
Na Ivy, temos atuado exatamente nesse ponto: investindo em tecnologia, processos e, principalmente, em educação para garantir que a segurança seja sinônimo de confiança e crescimento sustentável.
Atuamos na educação, inclusive, dos próprios times das empresas. Entre os nossos serviços possuímos, por exemplo, o Security Champion, no qual um especialista de nosso time de Segurança acompanha a equipe de desenvolvimento para corrigir falhas e eliminar reincidências.
Quer entender como a Ivy pode auxiliar seu negócio a se manter seguro e ser importante para todo o ecossistema? Manda uma mensagem para nossos especialistas, vamos fazer uma breve mentoria!